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domingo, 2 de junho de 2013

Variações de Hitchcock: "Ricos e Estranhos" - 1931

Apesar de ser considerado o mestre do suspense e de ter sua carreira baseada neste gênero, Alfred Hitchcock falou mais a fundo de outras emoções. A elegante comédia MR AND MRS SMITH, de 1941, com Carole Lombard e Robert Montgomery é um exemplo de um filme não típico de Hitch. O outro é o romance RICH AND STRANGE(RICOS E ESTRANHOS), uma produção de 1931 estrelando a grande aposta do diretor naquela época - Joan Barry. Diferente das louras geladas, personagens femininos da qualidade dos grandes sucessos de Hitchcock, a também loura Joan interpretava Emily Hill, uma mulher tímida e submissa ao seu marido grosseirão, Fred Hill(Henry Kendall). Incapaz de um gesto de carinho, ele a maltrata e ela parece não entender ou não ligar. Quando Fred herda uma fortuna de um parente, a vida deles muda completamente...para pior.

O dinheiro faz com que eles pensem logo em gastar e fazer um cruzeiro, passando a viver como ricos, cercados de luxo por toda a parte, incluindo seus companheiros à bordo. Logo, a doce e delicada Emily conhece  o Comandante do navio, Gordon(Percy Marmont), um homem que começa a lhe dar atenção. Totalmente o oposto de Fred, ele passa a acompanhar a moça, com uma fala gentil, companhia agradável e um ar de solidão, dividindo o coração de Emily. O espectador torce para eles terminarem juntos(pelo menos o de hoje), tamanha a semelhança de personalidade de ambos. Fred também conhece alguém parecido com ele, uma impostora se passando por princesa(Betty Amann). Maliciosa e fria, é a mulher perfeita para dar uma lição neste homem tão indiferente ao amor. E eis que acontece mesmo, e ele então se encanta por ela, achando que os dois irão se reencontrar no desembarque. O curioso é que, durante a viagem, os casados Fred e Emily não sentem falta um do outro. Parecem submersos em novas emoções, distraídos com o novo sabor que a riqueza lhes proporciona. Vivendo envoltos em um mundo que não lhes pertence. Um mundo estranho, porém atraente.

 Na sua fase inglesa, Hitchcock ainda produziria, mais tarde, THE 39 STEPS(1935), THE LADY VANISHES(1938) e outros grandes filmes. Seu talento atraiu a atenção de David .O. Selznick, que o convidou para trabalhar em Hollywood. Alfred adaptou RICOS E ESTRANHOS da novela de Dale Collins, dividindo os créditos com Alma Reville. Esta simples e eficiente produção de John Maxwell foi lançada no mesmo ano do ótimo SKIN GAME e de MARY -  a versão alemã de MURDER. Todos os personagens funcionam em seu contexto e um detalhe curioso é que nenhum deles tem muito drama. Até os que não são propriamente cômicos como Emily e o comandante Gordon possuem suavidade nas interpretações. Porém, isto não coloca o filme em uma categoria leve de romance e Hitchcock consegue que RICH AND STRANGE mantenha sua essência, dosando os sentimentos ao contar a história de uma mulher triste e mal amada. O diretor quis mostrar que nem sempre as pessoas valorizam um alguém depois que perde, na figura do personagem de Henry Kendall. Muita gente que assiste o filme deve se perguntar o que uma mulher delicada e especial como Emily viu em um homem tão insensível como Fred. Um das características mais interessantes do mestre Hitch é exatamente a de colocar ao alcance do público um entretenimento de qualidade, sem ser muito fantasioso. Do contrário: muito mais perto da realidade, da vida comum. RICH AND STRANGE é um exemplo claro e imperdível até para as mais novas gerações do que vivem e como vivem seres humanos de classe média. Os sem amor e os que podem dar amor e nem sabem o que o sentimento significa.

A beleza delicada e o talento de Joan Barry:Emily cuidando de Fred.



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