Todos os textos contidos neste blog são de propriedade intelectual da autora. Proibida reprodução total ou parcial sem autorização.

sábado, 6 de novembro de 2010

Raintree County, 1957

Dirigido por Edward Dmytryk, o drama de guerra estrelado por Elizabeth Taylor, Montgomery Clift e Eva Marie saint, foi duramente criticado desde o seu lançamento. Até hoje é possível ler comentários de pessoas que simplesmente detestaram o filme. A maior parte das reclamações gira em torno do longo tempo de duração e da falta de energia e dinamismo do filme. Discordei totalmente dessas observações, quando tive a oportunidade de assistí-lo, esta semana. Os pontos altos da produção, criada a partir da novela de Ross Lockridge Jr, sem dúvidas, são: a atuação de Elizabeth Taylor como a quase insana Susanna Drake. Ela consegue passar para o público, a imagem do deficiente mental diferente de muitas já apresentadas nas telas(geralmente quebrando a casa toda e berrando todo o tempo). A Susanna de Liz é confusa e perturbada, sim, mas consegue ser realista, ao mesmo tempo. Misturando frases como a da cena em que seu bebê com Johnny(Clift) nasce - "Mas existe um outro menino. Cadê o outro, Johnny???", e outras como "Você é bom demais pra mim, John", trouxeram à personagem, e por consequência, ao espectador, a idéia de que Susanna não era de todo louca. Enquanto tentava viver uma vida normal ao lado do marido, surgiam os fantasmas do passado e a atormentavam. Nós, sentados no sofá, sabíamos que ela se sentia frustrada quando mudava de comportamento. Ela tinha total consciência de seu distúrbio, por isso deixa transparecer sempre para John que estava atrapalhando a vida dele. Logo depois, percebia que não podia viver sem ele e pergunta: "Você nunca vai me deixar, não é?", ou faz afirmações e pedidos de ajuda para tentar mudar de comportamento e seguir sua história adiante. Presa à infância, mantém as bonecas no quarto de casal. Vez ou outra vemos carregar um de seus bonecos para lá e para cá, um deles parcialmente queimado pelo incêndio que destruiu sua casa e vitimou sua família, numa história envolta de mistérios que sua própria perturbação impede de interrá-los. No início da história, John está envolvido com Nell(Eva Marie). Mas ele conhece Susanna e se apaixona, encerrando o outro romance. Outro ponto forte em Raintree County são as cenas de batalhas dos soldados, durante a Guerra Civil Americana. A belíssima atuação de Lee Marvin, como Orville Perkins, está presente na cena em que ele é ferido e morto por um inimigo. E outros momentos lindos, como o reencontro de John com seu filho Jim, por quem havia por tanto tempo procurado. Perdido pela ausência de seu filho e esposa, John entra para a guerra. Susanna havia fugido de casa sem deixar pistas. Fraca é a cena em que o personagem de Clift a reencontra, vivendo em um hospício, depois de já ter encontrado o filho: frios os dois, estáticos, com um diálogo ralo, do tipo: "Eu te amo. Volta pra casa", e ela responde "Tudo bem". Claro que não foi assim, mas a idéia do reencontro é essa. O final, que muitos não gostaram, envolve a morte de Susanna. Havia se suicidado? Assassinada? Mal súbito? As pessoas ficaram perdidas(confesso que também fiquei). Mas parando para refletir, mais tarde, cheguei à seguinte conclusão: Susanna parte com o filho em busca da "árvore da vida". Ao encontrá-la, deixa o menino deitado debaixo dela, para que John pudesse ver o presente que ela havia deixado para ele, depois de tanto trabalho que tinha causado. Tenho para mim que ela resolveu sair da vida dele, para que ele pudesse ter a felicidade que merecia. A despeito de tudo o que já foi dito de ruim sobre Raintree County, me encantou do início ao fim, sem a monotonia de que tanto reclamaram. Belíssimo filme, com trilha sonora impecável de Johnny Green.

Nenhum comentário: