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domingo, 3 de julho de 2011

"Girl, Interrupted" 1999

Não é muito habitual que eu escreva sobre filmes dos anos 90, mas existe algo em Winona Ryder que estava me pedindo para colocá-la em artigos. Especiais são seus desempenhos em "Edward - Mãos de Tesoura", de Tim Burton, "Adoráveis Mulheres", ao lado de Susan Sarandon e Kirsten Durst, "A casa dos Espíritos", baseado no livro de Isabel Allende, ao lado de Meryl Streep e Jeremy Irons, "A Época da Inocência", etc...Ryder fez grandes filmes nesta década e era a queridinha da América, disputada pelos diretores e produtores de Hollywwod. Com uma atuação sempre sensível e sincera, que a colocou frente a frente de papéis tanto de mocinhas idílicas, quanto de meninas estranhas(caso de "Beetlejuice", também de Tim Burton) ou perturbadas, como Susana Kaysen, de "Garota, interrompida", o tema deste texto. 3 anos depois deste filme, câmeras de uma loja da 5ª Avenida de Nova York pegaram a atriz roubando acessórios e roupas e então ela foi à julgamento. Este então,exibido em todo o mundo, expôs a imagem de Ryder agora não como uma atriz, mas como ladra e sua carreira nunca mais foi a mesma.
Dirigido por James Mangold, "Girl, Interrupted" teve roteiro adaptado pelo próprio James, do livro dilacerante de Susana Kaysen, onde ela relata seus 18 meses na instituição mental Harrisburg Hospital no final dos anos 60. No elenco forte temos Ryder no papel de Susana, Angelina Jolie como Lisa, uma sóciopata, Whoopi Goldberg como a enfermeira-chefe da ala em que ficam as principais personagens internas e Brittany Murphy em um de seus papéis mais fortes: Daisy, uma menina que sofreu abuso sexual por anos e desenvolveu depressão aguda e um sério distúrbio alimentar. Murphy faleceu precocemente aos 32 anos, em dezembro de 2009, vítima de um ataque cardíaco. Sem dúvidas perdemos uma ótima atriz de nossa geração.
Susana Kaysen, a autora, reclamou da cena em que Lisa e ela fogem do Hospital em direção ao apartamento de Daisy. Segundo ela, esta fuga nunca aconteceu, além de não estar presente no livro. Tirando este detalhe e o trecho em que a personagem de Jolie fala do sonho de ir para a Disney, quando esta não tinha sido inaugurada até 1971, o filme segue o conceito de mostrar ao grande público as privações das internas dentro de suas miseráveis condições mentais, tendo como pano de fundo os revolucionários anos 60. Em vários momentos, a personagem Susana, diagnosticada como Borderline(Transtorno de Personalidade Limítrofe) é acusada pela junta médica de ser promíscua, o que de fato ela não era. Seu namorado, vivido pelo ator Jared Leto a visita regularmente em Harrisburg(que no filme tem nome diferente), um dos privilégios que só Susana tinha. Privilégio que seria mesmo íntimo se a porta não ficasse destrancada o tempo todo e as enfermeiras não entrassem de tantos em tantos minutos para fazer a inspeção. Susana então se envolve com um dos enfermeiros, mas de leve, lhe dá um beijo, o que causa escândalo para os médicos, daí o porquê de chamarem-na  promíscua. Muito bem articulada, a personagem tenta argumentar com as enfermeiras que as mulheres ainda não tinham conquistado seu espaço, mas em vão: sua ansiedade de jovem é sempre colocada sob suspeita e ela é ameaçada de nunca mais sair de lá. Durante sua estada em Harrisburg, as companheiras Daisy, Torch(uma menina que teve seu rosto desfigurado num incêndio) Janet(que quer chegar ao peso 33) e Georgina, são aterrorizadas pela presença de Lisa, uma sóciopata que tem o prazer de machucar as colegas, dizendo-lhes coisas horríveis sobre seu estado de saúde e passado. Todos têm medo dela. Este papel deu à Angelina Jolie, merecidamente, o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz.
Dois dos momentos mais bonitos do filme são marcados pela prova de companheirismo das internas. A cena do Café, quandoValerie(Whoopi G.) leva as meninas para tomar um sorvete é marcada quando uma amiga da família reencontra Susana e a ameaça por ter tido um caso com seu marido. Lisa parte em sua defesa e diz "Não aponte o dedo para gente doida!". Em seguida, Torch, Janet, Georgina e Daisy são instigadas por Lisa e começam a latir como se fossem morder. A mulher sái da sorveteria atordoada e a cena, hilária do início ao fim, termina com as gargalhadas das meninas.

 O outro momento emocionante fica por conta da cena em que Torch, arrasada com sua condição, sai chorando e gritando, carregada pelos enfermeiros, perguntando porquê aquilo foi acontecer com seu rosto. Confinada em seu quarto, ela permenece incomunicável. Susana pega o violão e resolve sentar no chão e cantar para ela o clássico de Petula Clark - "Downtown". Lisa senta junto dela e as duas cantam. Ao final, Torch, chorando e sorrindo no chão, perto da porta, balbucia algumas palavras da música. Belíssima cena.
A personagem Daisy é um capítulo à parte na história: escandalosamente bem interpretada por Brittany Murphy, sua tortura chega a assustar ainda mais que Lisa e seu terror psicológico. A menina acumula frangos debaixo da cama, por que não consegue comer perto de ninguém. Eles apodrecem ali e ela junto com eles, aos poucos. A história de Daisy com o pai foi construída em sua cabeça. Ela acredita que ele irá salvá-la e tirá-la de lá, mas na verdade, foi ele o responsável pelo abuso sexual e pelo seu estado mental bizarro e auto-destrutivo. Um dia, então, Daisy parte de Harrisbury. Ela vai para a casa montada pelo seu pai, a poucos quilômetros dali. Até agora não entendi porquê soltaram-na, já que ela definitivamente não estava apta a viver sozinha. Cheias de cortes nos braços, descobertos por Lisa, a garota acaba se matando enforcada no banheiro. O trecho em que Susana sobe as escadas lentamente, já sabendo o que iria encontrar é de um teor absurdamente forte e resume todo o filme. Ele nos faz pensar nas condições dos hospitais para doentes mentais ainda naquela época, nos próprios internos como vítima do sistema de uma década e por fim, nos anos 60, que por mais revolucionário que tenha sido, não deixou de ser repressor.
Harrisbury foi fechado em 2005.

A cena da sorveteria
Brittany Murphy como Daisy

14 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

A Winona é uma das melhores atrizes dos últimos 20 anos, Dani. Tomara que a carreira dela dê a volta por cima.
Abração e apareça

O Falcão Maltês

Darci Fonseca disse...

Oi, Dani, que bom ler seus textos novamente. Wynona é encantadora. Lembra dela em "Minha Mãe é uma Sereia", dançando com Cher e Christina Ricci "If you wanna get happy for the rest of your life"? Abraços.

História é Pop! disse...

Garota Interrompida é com certeza um dos mais tocantes filmes de Winona Ryder. Sempre gostei muito dessa moça. Pena a sociedade ainda hoje cobrar de Ryder com juros e correção monetário um deslize de seu passado que para algumas (os) outros “atores” seria visto como passaporte para o sucesso, vai entender!!!!
Andei meio frustra trada com os últimos papeis de Ryder, “O dilema” onde a moça contracena com o chato Vaughn não é filme para uma atriz como ela. Outro filminho de quinta é o tal “A Herança de Mr. Deeds”, refilmagem bem ordinária do clássico “O Galante Mr. Deed”
Outra coisa que me assustou foi o tanto que a moça ta espichada e plastificada, ela era linda, não precisava de excessos...
Depois de um filme tão soberbo como Girl, Interrupted é difícil vê-la assim...
Adorei a postagem
Beijo

Faroeste disse...

Não assisti Garota Interrompida, já que não sou muito fã de Jolie. Porém, vi com Wynona diversos filmes muito interessantes. Em A Época da Inocencia ela está muito bem. Mas está famtastoca em A casa dos Espiritos. Aliás, um grande filme, com todo o elenco ajudando a criar uma narrativa emocionante e muito bela, e onde Wynona tem o melhor momento de sua carreira.
Não devo aqui comentar sobre o assunto onde ela é pega afanando algo numa loja. Afinal, creio, Wynona, apesar de uma atriz, e muito boa atriz, nunca deixou de ser uma pessoa normal como todos. Assim sendo, sujeita a erros e a ter defeitos como qualquer um de nós.
O que tenho somente a dizer sobre ela é que é uma mulher linda, muito boa atriz, apesar do escorrego desta ocorrencia, parecem tê-la, de fato, a relegado a um plano de proposital esquecimento. Coisas do homem, do ser humano, a criatura mais nociva que a terra já criou.
jurandir_lima@bol.com.br

Anônimo disse...

Marcia (www.classicosnaoantigos.blogspot.com)
Olá, Dani. Gosto muito da Winona também. Ontem à noite, assisti ao seu último filme, Enough: The Lois Wilson Story (Às vezes o amor não é suficiente). É um drama, vale a pena assistir. Beijos.

Unknown disse...

Olá, pessoal
concordo com todos os comentários sobre Winona. Uma das melhores atrizes dos últimos 20 anos: corretíssimo! E com certeza o episódio do roubo hoje seria um trampolim pra muitas oportunistas desesperadas.
Sim, o ser humano, destruindo ser humano é a criatura mais nociva que Deus já criou.
Márcia, este filme está disponível para alugar?
Darci, claro que lembro! Vc lembra dela dançando Harry Belafonte "Jump the Line" no final de "Os Fantasmas se Divertem"?

Unknown disse...

A Brittany Murphy também era sensacional! O que vcs acham dela?

Anônimo disse...

Marcia Moreira
A Brittanyu estava ótima neste filme. Agora se este último filme da Winona está para alugar, eu não sei. Eu assisti na TV por assinatura.
Beijos.

Alan Raspante disse...

Uma pena que Winona tenha decaído tanto. Adoro ela. Ah, Brittany Murphy estava excelente neste filme. Outra atriz que eu tinha muita simpatia xD

Unknown disse...

Você trouxe muitas informações interessantes nesse texto, parabéns e obrigada!
Girl, Interrupted sem dúvida é um dos filmes mais interessantes da época e das carreiras de Angelina Jolie e Wynona.

Unknown disse...

Obrigada, Renata! Muito gentil de sua parte.
Concordo, Alan. Uma pena a Brittany ter ido tão cedo...

Marcos Rosa disse...

Assisti e gostei muito deste filme, inclusive já está na lista pra comentar, e após ler seu texto deu até vontade de escrever tb.

http://algunsfilmes.blogspot.com/

Unknown disse...

Obrigada, Marcos Rosa!

Anônimo disse...

Um filme muito bom que questiona o que é normal para os homens e os problemas enfrentados na adolescência ( onde não se é adulto ,nem criança) que é decidir seu futuro.
Abusos sexuais não declarados pelos médicos e a fragilidade de alguns diante da vida .